(a editora ulrike prinz, da revista alemã humboldt, me convidou a dar um breve depoimento sobre nosso trabalho com brecht no brasil. fez-me a seguinte pergunta: como se explica o êxito de autores alemães como müller e brecht no seu país? Como se vê pelo subtítulo abaixo, preferi responder à questão a partir de seu lugar de origem.)
Para entender por que a obra de Brecht vive no Brasil, é preciso pensar de que modo foi enterrada na Alemanha.
1. Brecht no Berliner Ensemble
Visito em 2007 as dependências do Berliner Ensemble. Estou em Berlim a convite da Casa Brecht, para uma conferência sobre o trabalho de meu grupo teatral em São Paulo, a Companhia do Latão. O dramaturgista do Berliner gentilmente me apresenta o teatro em que Brecht planejou um repertório de “demolição ideológica”. Ele me mostra um quadro de Helene Weigel ao lado de uma velha poltrona. “Era ela quem mandava aqui”, comenta. Seguem-se falas irônicas sobre a relação de Brecht com as mulheres, que poderiam constar do estúpido livro de John Fuegi The life and lies of Bertolt Brecht. Mais adiante, ao narrar a história do palco da Schiffbauerdamm, enfatiza que a Ópera de três vinténs (Die drei-groschenoper) foi “plagiada” de John Gay e escrita com intenções comerciais. Outros sorrisos. Todos seus comentários têm por alvo dessacralizar Brecht.