Agir dá mais felicidade do que desfrutar.
Os animais também desfrutam.
O novo Menoza, Jacob Lenz
A representação de processos de desumanização foi questão fundamental para algumas das mais importantes realizações do teatro moderno, tornando-se uma espécie de projeto central para os artistas que, na primeira metade do século XX, pensaram as relações entre forma dramatúrgica a sociedade contemporânea.
Pode-se dizer que o interesse teatral pelo homem que se desumaniza surge muito antes do momento das vanguardas históricas. Aparece de tempos em tempos na dramaturgia ocidental desde o advento dos teatros nacionais no Renascimento, como uma dimensão negativa do processo de expansão daquela concepção humanista que deu lugar, em cena, ao que foi uma conquista decisiva da racionalidade burguesa: a idéia de indíviduo moderno, o homem dotado de razão, capacidade de escolha, livre-arbítrio. É paradoxal que ao surgir na cena teatral dos séculos XVI e XVII, ainda como individualidade (mas já dotado da capacidade racional de tomar decisões potentes), essa imagem social do indivíduo que carrega a estrela do seu destino na testa revele, no caso de alguns grandes autores como Shakespeare, o avesso do humanismo, isto é, a vocação do inumano. É o que se vê em Macbeth, Lear, e mesmo Hamlet.