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crônicas e ficção

Uma canção do reisado (2011)

No Assentamento Santana, onde mora Alana, Seu José, brincante do Boi, é a mim apresentado por Silma. Percebe que me interesso pelo que ele faz e me narra uma cena. “Nunca viu?” Ele representa cada um dos personagens do jogo do reisado, canta trechos, cria o espaço, as oposições, os tipos. Consigo ver cada detalhe.

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diálogos das artes

Notinha sobre Cassavetes (2011)

“Faces”, de John Cassavetes, me trouxe a vontade de fazer cinema. Sua beleza impressionante não é técnica. Câmera documental, sem plano e contra plano, descontinuidade, marcas de muitos cineastas modernos. O assunto tem algo de banal: o casal burguês em crise se refugia no sexo pago. Mas, como em Tchekhov, os estragos psíquicos surgem patéticos, em contextos sociais precisos.

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Latão e Brecht

Nota sobre atuação no Latão (2011)

Hoje, quando tem início a temporada de O Patrão Cordial em São Paulo, registro alguns pontos importantes para o trabalho dos atores na Companhia do Latão.

“A máscara é o que dá sentido e tira”, ouvi a frase fulminante numa entrevista dada pelo mestre de reisado Manuel Torrado, que vive no interior do Ceará. Um ator interessado em dialética (e no teatro como interesse pela vida) pode se aproximar dessa compreensão se praticar algumas negações que visam a superações. Desse ponto de vista, torna-se importante: não se deixar carregar pela própria energia interpretativa, aquela que em certa medida é útil para a superação do medo da boca de cena.

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Latão e Brecht

Do diário das apresentações de Ópera dos Vivos (2011)

10.11.2011
Palestra a um grupo de teatro intelectualizado. Após a fala inicial, ouço a pergunta reincidente: “Você acha que essa perspectiva iluminista, essa crítica da ideologia feita pelo teatro épico, dá conta das questões contemporâneas?”. Respiro fundo e tento explicar que o procedimento do teatro dialético não pode ser identificado ao desmascaramento, à exposição da mola econômica, que os aspectos decisivos estão na interação contraditória entre a cena e o público etc.

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diálogos das artes

Gerd Bornheim foi espectador ideal (2002)

Dentre os filósofos brasileiros, Gerd Bornheim foi o mais querido pela gente de teatro. Tinha como ninguém o prazer do espetáculo, a admiração pela forma transitória da cena, por uma ficção condicionada à presença física dos atores. Tinha também um gosto muito pessoal pela crise. Pelo teatro como experiência crítica, em que os valores não estão mais dados. E tudo precisa ser construído na relação entre o palco e a platéia.

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diálogos das artes

Nota sobre Chaplin (2011)

Assistimos a algumas cenas de Chaplin como modelo de trabalho nos ensaios de O Patrão Cordial. Mesmo nos filmes anteriores à composição do “tipo Carlitos”, está em jogo uma personagem abúlica, de vontade precária, a quem o mundo das coisas surge como ameaçadoramente vivo.

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Latão e Brecht

Atuação crítica (entrevista, 2009)

ISABEL PACHECO – Vendo o trabalho e a trajetória de vocês eu vejo que há uma reflexão crítica acerca da sociedade, da história. Como surgiu isso, a idéia dessa busca por esse caminho?

SÉRGIO DE CARVALHO – Desde o início, existe uma certa dimensão teórica no trabalho teatral que eu pretendia desenvolver e depois isso se impregnou no trabalho do Latão. Eu vim da dramaturgia pra direção.

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diálogos das artes Latão e Brecht

Dogville: das vantagens de usar Brecht

Não é só através do tema que Dogville, filme do diretor Lars Von Trier, se aproxima da obra de Bertolt Brecht. De fato, a canção Jenny e os Piratas, trecho da Ópera de Três Vinténs, inspira o argumento do filme, cedendo-lhe a imagem da moça explorada por toda a cidade e a de uma vingança de aniquilação. Mas o parentesco de assunto é distante, comparável ao da releitura feita por Chico Buarque em sua Geni e o Zepellin. São casos em que o assunto brechtiano serve a outros propósitos.

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Latão e Brecht

A dialética crua e ingênua do Senhor Keuner (2006)

Em torno do Sr. K, um irônico pensador anti-ideológico, Brecht escreveu dezenas de fragmentos teórico-narrativos. A maioria das Histórias do Senhor Keuner já era conhecida no Brasil: pela tradução de Marcelo Backes editada em formato de bolso no Rio Grande do Sul em 1998 (Unidade Editorial, Prefeitura de Porto Alegre) ou pela pioneira, a de Paulo César Souza, editada em 1989, pela Brasiliense. Revista para a editora 34, é esta tradução que agora se reimprime com a inclusão de 15 fragmentos recém descobertos, provenientes da chamada “Pasta de Zurique”, do espólio da documentarista suíça Mertens-Bartozzi.

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teatro e literatura

Encontro com Lauro César Muniz sobre dramaturgia (2011)

Encontro de trabalho (nos dias 16 e 17 de agosto de 2011) com Lauro César Muniz, no Estúdio da Companhia do Latão. Ele nos explica seus anos de aprendizagem com Augusto Boal, entre 1961 e 1962, quando tomou contato com o método de escrita que o Arena desenvolveu antes do golpe de estado.