“Faces”, de John Cassavetes, me trouxe a vontade de fazer cinema. Sua beleza impressionante não é técnica. Câmera documental, sem plano e contra plano, descontinuidade, marcas de muitos cineastas modernos. O assunto tem algo de banal: o casal burguês em crise se refugia no sexo pago. Mas, como em Tchekhov, os estragos psíquicos surgem patéticos, em contextos sociais precisos.
O trato de classe vem no desvio: a prostituta tem uma ternura atípica para com o financista, o rapaz de programa vê o custo alto da alegria que não se quer mercantil. A câmera serve à atuação. No cinema atual, disse Helena Ignez, pode cair um meteoro no set, que não será filmado, em função da ordem do dia. Cassavetes e seu grupo improvisavam. Daí as crateras épicas no chão do drama