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Latão e Brecht

Ópera na Terreira da Tribo (notas e fotos, 2011)

Porto Alegre, 28 de junho de 2011. Iniciamos a montagem de Ópera dos Vivos na Terreira da Tribo. É uma viagem tornada possível graças à vontade e ao trabalho do Ói Nóis Aqui Traveiz.

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Latão e Brecht

Nota sobre “o velho e o novo” em Brecht (2011)

A procura da interação entre o velho e o novo possibilita ao escritor ver nas coisas o seu processo. Todo o teatro de Brecht é atravessado por imagens de anacronismos e progressos, momentos da contradição entre atitudes antigas e novas, formas distanciadas de se compreender os padrões da atualidade. Numa nota de trabalho a respeito de A Boa Alma de Setsuan ele escreve: “Claro que já existem aviadores e ainda existem deuses neste Setsuan”.

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Latão e Brecht

Os vivos somos nós: entrevista sobre Ópera dos Vivos (2010)

Princípios – A peça retrata bem os anos 1960, 1970, aquele período de ditadura militar, com um olhar atual. Mas também aborda outras questões. Afinal, qual o tema central de Ópera dos Vivos?

Sérgio de Carvalho – Para nós, a peça é sobre o trabalho da cultura na atualidade. Ela usa os anos 1960 como uma referência para pensarmos possibilidades hoje de relação entre arte e política. Ela não se pretende uma história geral do período. O ângulo em que a história surge em cena é o do processo de mercantilização e de alienação, ligado à especialização em que o trabalho artístico se envolve com o desenvolvimento das estruturas produtivas. Como em qualquer outra relação de trabalho, também as da cultura se determinam pela situação material. 

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teatro e literatura

Penúltima peça de Ibsen estreou há cem anos (1997)

A penúltima peça de Henrik Ibsen estreou em Paris, em 1897. Hoje um dos menos conhecidos entre seus dramas modernos, John Gabriel Borkman é lançado no Brasil com tradução direta do norueguês feita por Fátima Saadi e Karl Erik Schollhammer. O título dá seqüência à coleção Teatro da Editora 34 iniciada com O Pequeno Eyolf, peça imediatamente anterior no conjunto da obra do dramaturgo. Olhando o cartaz dessa primeira apresentação parisiense de John Gabriel Borkman, vemos em primeiro plano o rosto de um homem velho de suíças, como que pairando no ar.

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teatro e literatura

Valor de troca da imagem (debate sobre teatro pós-dramático, 2009)

Algumas das mais importantes experiências do teatro latino-americano nos anos 60 e 70 ocorreram no ambiente de grupos teatrais. Esses conjuntos do passado associaram criação coletiva e politização da pesquisa formal. Romperam com a especialização do trabalho artístico e atuaram nas fronteiras do mercado de artes.  Nas décadas seguintes, houve um relativo abandono desse projeto coletivista e politizado devido a vários fatores: perseguição da ditadura militar, globalização econômica, retração do campo socialista etc.

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diálogos das artes

A bolsa de valores e o amor (2003)

Num texto irônico de sua juventude, Marx elogia o erotismo e o senso ético da Bolsa de Valores, porque afinal, ele escreve, na “bolsa de valores também é o amor que impera”. A bolsa de valores é um lugar onde cada investidor busca satisfazer o seu desejo de felicidade, o que significa, na prática, o amor. Portanto, se alguém joga na bolsa, diz ele, “e faz isso com correção”, sabendo calcular bem as conseqüências das operações, está agindo moralmente, ao mesmo tempo em que realiza o amor.

Essa ironia literária de Marx – essa piada de que o mercado é um lugar de moralidade e erotismo – serve até hoje como uma espécie de modelo modernista para a representação teatral antiburguesa.

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diálogos das artes

O negócio da cultura. Pela extinção da Lei Rouanet.(2008)

O debate sobre a extinção da Lei Rouanet tem mobilizado setores importantes da sociedade brasileira. Parte da classe artística, secretários de governo e jornalistas têm assumido o ponto de vista “reformar, sim, acabar, nunca!”.

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Latão e Brecht

Ofício do diretor (entrevista, 2010)

Como você chegou à direção teatral?

Comecei meu trabalho teatral como dramaturgo. Apesar de algumas experiências anteriores em direção (feitas na universidade, durante a graduação e o mestrado), minha intenção era seguir apenas escrevendo ficção e teoria. Decidi me dedicar ao ofício de encenador quando entendi, através da prática experimental, a possibilidade de juntar os campos. Passei a me dedicar a uma dramaturgia crítica da cena, ligado a um coletivo de artistas, a Companhia do Latão.

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teatro e literatura

Teatro e sociedade no Brasil colônia: a cena jesuítica do Auto de S. Lourenço (trecho do artigo de 2016)

A primeira menção documentada ao Auto da pregação universal indica esse objetivo. A peça foi escrita a pedido de Manoel da Nóbrega para substituir uma comédia popular mais grosseira, certamente feita a partir de um folheto de cordel, que costumava ser representada pelos colonos na igreja em épocas festivas. É o próprio Anchieta (1945) quem relata sua motivação: “E por impedir alguns abusos que se faziam em autos nas igrejas, fez um ano com os principais da terra que deixassem de representar um que tinham, e mandou-lhes fazer outro, por um Irmão, a que ele chamava Pregação Universal […]. E a gente movida com muita devoção ganhou o jubileu, que era o principal intento da obra. (p. 18)”

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teatro e literatura

A teatralidade fora de lugar: a cena tupinambá no triunfo de Rouen (trecho do artigo, 2017)

Nos dois primeiros dias de outubro do ano de 1550, na cidade francesa de Rouen, França, ocorreu uma grande festa pública para saudar o rei da França. Foi a primeira vez em que um grupo de índios tupinambás do Brasil atuou num espetáculo na Europa, “representando” (se é que a palavra é essa) a si próprios. Ainda que existam registros anteriores da presença de nativos do Novo Mundo em festas públicas – como a entrada de Luís XII, em 1508, na mesma Rouen –, em 1550 os índios não foram exibidos apenas como curiosidades públicas, como atrações de feira. Eles participaram ativa-mente de uma cena narrativa, e que pretendia reconstituir uma certa imagem de sua vida tribal no Brasil. O evento se tornou conhecido entre nós desde que o historiador Ferdinand Denis, no começo do século XIX, divulgou os relatos e batizou o episódio como “uma festa brasileira celebrada em Rouen” (2007). A encenação de Rouen foi organizada como uma tradicional entrada triunfal (ou entrada “alegre” ou “solene”), que ocorria quando um rei visitava uma cidade em ocasiões especiais. Como se sabe, é uma modalidade de espetáculo público que se originou na Antiguidade e foi, de certo modo, reinventada na Europa do século XIII como festa de confirmação do poder monárquico diante dos súditos e vassalos, num tempo, o século das catedrais, de grande crescimento da vida urbana.

(LEIA O ARTIGO COMPLETO PUBLICADO EM http://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/140221/137198)