Conheci o dramaturgo Jean-Pierre Sarrazac ao convidá-lo para uma participação no ciclo O Teatro e a cidade, que organizei para prefeitura de São Paulo em 2001. Sarrazac vinha ao Brasil pela primeira vez.
Sérgio de Carvalho é dramaturgo e encenador da Companhia do Latão, grupo teatral de São Paulo, Brasil. É professor livre-docente na Universidade de São Paulo na área de dramaturgia.
Conheci o dramaturgo Jean-Pierre Sarrazac ao convidá-lo para uma participação no ciclo O Teatro e a cidade, que organizei para prefeitura de São Paulo em 2001. Sarrazac vinha ao Brasil pela primeira vez.
Nessa homenagem a Roberto Schwarz quero mencionar um episódio de sua atuação crítica que teve relação direta com os caminhos artísticos de meu grupo de trabalho teatral. O primeiro evento público em que a Companhia do Latão adotou esse nome, assumindo-se, portanto, como um coletivo artístico, ocorreu em de julho de 1997, na abertura de portas do Teatro de Arena de São Paulo, espaço então ocupado por nós com o projeto Pesquisa em Teatro Dialético. Roberto Schwarz participou da noite inaugural como palestrante convidado: após a leitura da peça A Santa Joana dos matadouros, encenada por nós e por ele traduzida, veio debater conosco a atualidade da obra de Bertolt Brecht.
A beleza de O Mundo Composto vem do sentimento de injustiça que atravessa o pequeno ato: dois homens em cena, a percepção das vidas gastas no trabalho, a elaboração simbólica da própria experiência, no ponto em que a religiosidade camponesa se aproxima da consciência de classe.
Gostaria de apresentar algumas das posições do escritor de peças alemão Bertolt Brecht em relação a uma das polêmicas mais
importantes sobre estética marxista no século XX, o chamado “Debate sobre o Expressionismo”, que foi a rigor um debate sobre Realismo.
Raymond Williams, em mais de uma ocasião, afirmou que seu interesse pelo teatro surgiu na leitura das peças de Ibsen, ocorrida após sua experiência como combatente do exército na Segunda Guerra Mundial. Ibsen foi, no fim do século XIX, o dramaturgo mais influente entre os artistas que representaram a crise da sociedade burguesa no campo da família. Para Williams, é o autor que toca o limite da “tragédia liberal”. A leitura de sua obra, feita em contraste com as experiências trágicas do século XX, foi decisiva para que o jovem intelectual de origem operária encontrasse um caminho crítico diferente daquele praticado por seus pares na Universidade.
Para que se entenda o trabalho teatral do poeta Gonçalves Dias (e sua possível validade atual) é preciso refletir sobre sua admiração por Friedrich Schiller, um modelo artístico recuado quase 50 anos do romantismo brasileiro. O classicismo alemão servia de bússola espiritual para uma resistência contra o apequenamento imposto por um ambiente hostil. Nele, Gonçalves Dias (1823-64) encontrou um debate poético central da nossa era, aquilo que Lukács descreveu como a necessidade de superar pela forma o caráter problemático e não-artístico da sociedade burguesa.
Por muito tempo de sua vida, Ruggero Jacobbi pensou que era “alguém de passagem, alguém provisório” no teatro. Vindo das letras, da estética filosófica, do interesse por cinema, ele demorou a se reconhecer no mundo das coxias, dos atores, e das expectativas do público. Mundo, de qualquer modo, sempre estranhável. Foi, entretanto, graças a essa atitude de inadaptação, no que ela tem de recusa às eternizações (tendência que atuava nele como uma qualidade distanciadora das coisas prontas), que Jacobbi contribuiu – talvez mais do que ninguém – para a radicalização crítica do moderno teatro brasileiro.
O encontro do jovem Nelson Xavier com os artistas do Teatro de Arena, no fim dos anos 1950, promoveu uma não-especialização que foi a marca de sua atitude de ator, a despeito de sua identificação posterior com figuras como Lampião ou Chico Xavier. Mas que outro ator poderia se orgulhar dessa associação a personagens tão emblemáticos das contradições do Brasil?
Agradeço ao convite para abrir este evento que me parece tão importante, por se perguntar sobre os caminhos do trabalho de dramaturgia no Brasil na atualidade. Coube-me a tarefa de uma apresentação panorâmica de alguns conceitos-chave com que o debate formal costuma se realizar, ainda hoje, neste campo: Drama, Teatro Épico e Teatro Pós-Dramático. Vou tratar, sobretudo, da dificuldade de se discutir o conceito de drama, e a partir daí projetar os outros temas.
As visões teatrais do dramaturgo alemão Bertolt Brecht e do ator e encenador russo Constantin Stanislavski podem parecer opostas e mesmo inconciliáveis numa primeira leitura. Entretanto, suas obras transitaram por muitas possibilidades das artes cênicas e nunca foram um conjunto estável de gestos e ideias. Assim, ao contrário do que sugerem as vulgatas, que as apresentam como antípodas do modernismo cênico, é possível encontrar nessas obras vários interesses comuns, especialmente quando a concepção totalizante e móvel de seus autores sobre o trabalho teatral surge à frente das diferenças ideológicas.