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crônicas e ficção

A atriz H

Por onde passa, instaura começos
ensaios, de alegria e espanto,
como as velhas divindades
(na mão, uma cicatriz)
No centro móvel da cena,
Ela percorre desvios
Estaca a fala, suspende o rito
Voa o cenário,
inaugura o sentido
No gesto em que tudo já era
no ato em que tudo é princípio
seu despudor é risonho
quase ofensivo
à cata da relação
precisa
Porque sabe o que interessa,
seu papel tipo,
quiçá um estilo,
parece antigo,
inapreensível,
vibra cordas da razão
Poderia ser dito, de modo mais materialista:
“É melancólica essa beleza
Que sabe seu agora”
no olho do vivo
Seu tempo de teatro é exato
como seu corpo:
prático, límpido, nítido, último.

Por Sérgio de Carvalho

Sérgio de Carvalho é dramaturgo e encenador da Companhia do Latão, grupo teatral de São Paulo, Brasil. É professor livre-docente na Universidade de São Paulo na área de dramaturgia.

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