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Noite dos desesperados (They shoot horses, dont they?)

Dos filmes que me marcaram a adolescência, Noite dos desesperados (1969), de Sidney Pollack, é talvez o de memória mais viva. Assisti na televisão, sozinho, numa madrugada. Numa mais o revi. O filme retrata um concurso de dança de salão em que o último casal a seguir de pé ganha o prêmio, até o limite das forças e da sanidade. Todos bailam como mortos vivos, numa corrida diante de uma plateia que parece mecânica, ao som de músicas ironicamente alegres. São personagens arrebentadas, no tempo da depressão norte-americana.

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A bolsa de valores e o amor (2003)

Num texto irônico de sua juventude, Marx elogia o erotismo e o senso ético da Bolsa de Valores, porque afinal, ele escreve, na “bolsa de valores também é o amor que impera”. A bolsa de valores é um lugar onde cada investidor busca satisfazer o seu desejo de felicidade, o que significa, na prática, o amor. Portanto, se alguém joga na bolsa, diz ele, “e faz isso com correção”, sabendo calcular bem as conseqüências das operações, está agindo moralmente, ao mesmo tempo em que realiza o amor.

Essa ironia literária de Marx – essa piada de que o mercado é um lugar de moralidade e erotismo – serve até hoje como uma espécie de modelo modernista para a representação teatral antiburguesa.

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O negócio da cultura. Pela extinção da Lei Rouanet.(2008)

O debate sobre a extinção da Lei Rouanet tem mobilizado setores importantes da sociedade brasileira. Parte da classe artística, secretários de governo e jornalistas têm assumido o ponto de vista “reformar, sim, acabar, nunca!”.

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O direito ao teatro: debate sobre política cultural (2012)

Não há muita dúvida de que o teatro é o setor da vida cultural brasileira em que o engajamento na questão das “políticas culturais do Estado” se encontra mais avançado. Setores dos produtores independentes têm acompanhado de perto e tentado influenciar, através de cafezinhos, seminários e páginas nos jornais, a recente discussão sobre o Procultura, uma reforma da Lei Rouanet que pretende fortalecer as verbas diretas do Fundo de Cultura e controlar na medida do possível os diretores de marketing que hoje decidem sobre o patrocínio das artes com recursos de renúncia fiscal.

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O fim anunciado: a crítica de teatro vive os seus últimos dias

O processo de esvaziamento da crítica teatral na imprensa brasileira já dura mais de duas décadas. E esses que aí estão talvez constituam o nosso último grupo de críticos. Depois deles, ao menos na imprensa, será a morte da profissão. Fim inglório, para o qual eles próprios contribuíram. Sem críticos profissionais, no entanto, a crítica continuará a ser exercida nos jornais do lado de fora do discurso crítico. Bem longe do pensamento. Continuará a ser exercida na escolha editorial sobre quais artistas merecem uma reportagem. Na decisão sobre o tamanho da matéria supostamente isenta de opinião, que vai ou não sair na capa do caderno. Na escolha das fotos, ou ainda no roteiro da temporada que, cada vez mais seletivo, continuará com suas estrelinhas e aplausinhos de recomendação.

Com o fim do discurso crítico, não serão extintas as valorações. De manifestas, elas vão se tornar ocultas. Sem autoria. E, sem que se apresente o sujeito das opiniões não enunciadas como tal, não haverá o que debater. Não se discute com “escolhas técnicas”, assim como não se discute com “leis do mercado”. O juízo de valor será produzido de forma cada vez mais baixa, sem nenhuma raiz na argumentação. O valor de tal obra será lançado de cima, de insondáveis alturas, sem construção lógica no caminho da verdade, e sem desejo de, por meio do argumento, estabelecer uma relação crítica com o leitor.