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crônicas e ficção

Cançoneta de Maria Ilieva

Sou Maria Ilieva

das ameixas escaldadas,

do xarope fermentado,

na Bulgária dos novos dias.

Pode provar meu senhor,

Meu conhaque seca feridas,

Aprendi subindo nos galhos

enquanto caía o regime

da pátria socialista.

Se queima mesmo a língua?

Aí está o bom da coisa,

seja espontâneo, querido

numa goela intacta

alguma coisa está errada.

Olhe para mim

meu grande turista

enquanto os porcos giram torrados

na feira das velhas insígnias.

Sou Maria Ilieva

Aprendiz dos novos dias.

Quentes tragos, grandes cílios,

estudei os gestos das trocas

e já engulo a grande garrafa

do conhaque capitalismo.

Seja espontâneo, senhor,

eu não cuspo, tenho brios,

aí está o bom da coisa,

numa goela intacta

alguma coisa está errada.

Sou Maria Ilieva

da mucosa calcinada

na Bulgária das mil alegrias.

Por Sérgio de Carvalho

Sérgio de Carvalho é dramaturgo e encenador da Companhia do Latão, grupo teatral de São Paulo, Brasil. É professor livre-docente na Universidade de São Paulo na área de dramaturgia.

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