A montagem da Ópera de Três Vinténs de Brecht, dirigida por Bob Wilson para o Berliner Ensemble passa pelo Brasil. Assisti há alguns anos em Berlim. Uma jornalista me pede opinião, respondo o seguinte:
Quando Bob Wilson surgiu como encenador nos anos 70, Heiner Muller viu ali uma afinidade radical com Brecht: um encenador que desmontava a expectativa convencional – e ideológica – do público, rompendo o espaço-tempo da cena e combinando fragmentos de fantasia e de paisagem histórica. O Bob Wilson de hoje depurou a própria pesquisa formal a ponto de domesticá-la. Essa Ópera de Três Vinténs reduz o texto de Brecht a esquemas abstratos de neon, despolitiza o material crítico, dissolve o caráter de classe da representação (que na peça original é a questão central), desproblematiza a posição do espectador. É uma encenação bonita e conformista, como é o Berliner atual.